Anhanguera e Kroton mudam composição acionária para fusão
Em: 08 Maio 2014 | Fonte: Valor Econômico
A fusão entre Anhanguera e Kroton - que criará a maior companhia de ensino superior do mundo com mais de 1 milhão de alunos - está prestes a ser concluída. Ontem, as duas empresas anunciaram mudanças na composição acionária da nova companhia, o que foi recebido como um claro sinal de que as tratativas com o Conselho de Defesa Econômica (Cade) chegaram a um consenso.
Segundo o Valor apurou, o órgão antitruste deve recomendar a venda da Uniasselvi, instituição de ensino a distância adquirida pela Kroton por R$ 510 milhões há dois anos. Outra possibilidade, considerada remota, é as companhias aceitarem se desfazer da Uniderp, instituição da Anhanguera que atua nessa modalidade educacional. Já a venda isolada de polos de ensino a distância está descartada.
"Acredito que há mais chances de uma indicação de venda da Uniasselvi, que está menos integrada em relação à Uniderp. Mas o Cade deve recomendar mais algumas restrições no ensino a distância, além da venda de campi de cursos presenciais em Jundiaí, Rondonópolis e Cuiabá", disse Bruno Giardino, analista do Santander. A Superintendência Geral do Cade aponta problemas concorrenciais em 171 cursos a distância em 55 municípios e sobreposição em 10 cursos de graduação presencial. A Uniasselvi tem presença só em 12 dessas cidades.
"Estamos confortáveis com o 'remédio' que estamos negociando com o Cade porque ele atende as demandas concorrenciais e não inviabiliza o negócio", disse Rodrigo Galindo, presidente da Kroton, em teleconferência ontem.
A venda da Uniderp é considerada pouco provável também porque a Anhanguera ministra seus cursos de ensino a distância por meio dessa instituição, ou seja, sem ela a companhia paulista deixaria de atuar em um segmento que cresce a passos largos e tem margens elevadas. Além disso, a Uniderp conta com cerca de 140 mil alunos, mas os problemas concorrenciais estão num contingente de 55 mil estudantes.
Com a venda da Uniasselvi, a Kroton permaneceria no segmento de ensino a distância com a Unopar, o negócio de maior relevância. A venda de apenas alguns polos de ensino a distância foi descartada porque a legislação atual só permite a venda de instituições de ensino como um todo e o Ministério da Educação (MEC) não teria feito concessões porque criaria um precedente em um setor que está em plena fase de consolidação.
Ontem, executivos das duas companhias estiveram novamente reunidos com representantes da autarquia, em Brasília, para debater as últimas tratativas da fusão. "Acreditamos que a aprovação no Cade ocorra em 28 de maio e que o processo todo seja concluído no fim de junho", disse Roberto Valério, presidente da Anhanguera, também em teleconferência.
As negociações para mudança na composição acionária da nova companhia começaram na quarta-feira da semana passada, quando as conversas com o Cade caminharam para uma solução positiva. Desde então, foram realizadas quatro reuniões, sendo que a última começou as 17h de terça-feira e se estendeu até a madrugada de ontem.
Com o acordo, a Kroton aumentou sua participação que era de 57,48% para 66,5% na nova companhia, cujo valor de mercado é de R$ 21 bilhões. Há alguns meses, os acionistas da Kroton vinham pleiteando, inclusive com ameaças de não aprovar o negócio, mudanças na relação de troca de ações, uma vez que o desempenho da Anhanguera foi muito aquém. "É uma relação justa. Se a associação não saísse, o papel de Anhanguera poderia ser depreciado", disse o analista do Santander.
A transação contempla ainda uma emissão de 135,4 milhões de novas ações da Anhanguera. As companhias anunciaram ainda política de distribuição de dividendos. A Kroton poderá pagar aos acionistas até R$ 483 milhões (o equivalente a 100% do lucro distribuível) e a Anhanguera, R$ 57 milhões. Ontem, as ações de Anhanguera e Kroton lideraram as altas do Ibovespa, com valorização de 6,34% e 4,86%, respectivamente.